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    Sapucaias colorem Brasília e enganam até os olhos mais atentos

    As copas avermelhadas que enfeitam o DF nesta época do ano não são flores, mas folhas jovens que mudam de cor antes de ficarem verdes.

    As copas avermelhadas que enfeitam o Distrito Federal nesta época do ano escondem um segredo curioso. A florada das sapucaias (Lecythis pisonis), nativas do Brasil e muito comuns nas avenidas do Plano Piloto, é um espetáculo que costuma confundir até os mais observadores: o que muitos acreditam ser flores são, na verdade, folhas novas.

    O fenômeno ocorre porque as folhas jovens da espécie nascem com tons rosados, rubros ou arroxeados antes de ganharem o verde intenso característico da fase adulta. Essa coloração vibrante resulta da presença de pigmentos chamados antocianinas, que protegem as folhas ainda delicadas contra a radiação solar e o estresse ambiental. O resultado é um show visual que colore a cidade e destaca a diversidade da arborização brasiliense.

    Presente desde a Amazônia até o Nordeste e o Sudeste, a sapucaia se adaptou perfeitamente ao clima do Cerrado. No Distrito Federal, é encontrada com frequência ao longo dos eixões Norte e Sul, além de ser cultivada no Viveiro 1 da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). A espécie integra o plano anual de arborização da companhia, que, por meio do Departamento de Parques e Jardins (DPJ), cuida do plantio e da manutenção de milhares de árvores na região.

    O vigilante Fernando José da Silva, que trabalha em frente a uma sapucaia no Viveiro 1, conta que se surpreendeu ao descobrir o segredo das copas avermelhadas. “Sempre achei que fossem flores, e não folhas novas. Agora que sei, fico ainda mais admirado. Ela se destaca muito no cenário urbano e dá um charme especial à paisagem”, diz. “Além disso, o fruto é curioso, parece um coco. Já cheguei a usar a água dele em casa, dizem que ajuda até a controlar a glicemia.”

    A brotação das folhas coincide com o período de floração da espécie, entre setembro e outubro, quando pequenas flores lilases aparecem entre os galhos. É nessa fase que as copas ficam ainda mais vistosas, confundindo quem passa pelas ruas e avenidas.

    Quem confirma o encantamento é o vendedor Jô Santos, 34 anos, que trabalha na 205 Norte. “Muita gente para pra perguntar se é flor ou folha. Quando a árvore troca de folhagem, parece que está toda em flor. Fica linda, dá vontade de ficar olhando.”

    Além da beleza, a sapucaia também guarda um valor alimentar e ecológico. Seus frutos lenhosos levam cerca de 11 a 12 meses para amadurecer e liberar as sementes, que são comestíveis e altamente nutritivas, semelhantes à castanha-do-pará. Consideradas uma planta alimentícia não convencional (Panc), essas sementes são consumidas torradas, em farinhas ou doces, especialmente em comunidades tradicionais.

    Assim, entre folhas que parecem flores e frutos que alimentam, as sapucaias seguem transformando a paisagem e revelando, a cada estação, que a natureza do Cerrado ainda guarda segredos e encantos pouco percebidos no dia a dia urbano.

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